sexta-feira, março 16, 2012

Instantes...


Naquela manhã de Fevereiro entrei no hotel tropeçando no frio e na pressa, dirigi-me à recepção e, como em quase todos os dias, preparei-me para sair de imediato, “uma visita de médico” ou “entrar num pé e sair no outro”, quando dava meia volta sobre os calcanhares ouvi chamar o meu nome, voltei-me e dei de caras com a Odete, melhor, com o sorriso da Odete –tome, é para si – disse ela ao mesmo tempo que depositava no balcão uma caixinha castanha em papel.

De imediato identifiquei uma caixa em “origami”, e como todas as caixas com tampas espevitam a curiosidade e convidam à abertura, abri-a. Lá dentro anichado no fundo, um anel, não um anel qualquer, este tinha a cara de um dólar americano, uma nota verdadeira dobrada em anel, mais um origami”.
Naquele instante esqueci a pressa que não é pressa, é só o desconforto que sentimos quando estamos num lugar que nos é hostil, naquele instante o frio esvaiu-se dando lugar ao conforto que nos invade quando nos sentimos bem e queremos prolongar um momento que apreciamos.
Há instantes que pela sua grandiosidade não cabem no tempo, s ão aqueles momentos que pela sua raridade gostávamos de perpetuar, no caso, não pelo valor da prenda que acabara de receber ou pela perfeição das dobragens que a Odete, artisticamente, empresta às suas obras em “origami”, mas sim por se ter lembrado de mim.
Nos dias que voam, onde o tempo que passa…já passou, onde a vertigem desse mesmo tempo devora sem compaixão qualquer fracção que se atreva a medir a si próprio, alguém gastar um pouco desse seu tesouro a lembrar-se de outrem e para além da lembrança ocupar algum desse tempo a fabricar com as próprias mãos algo para oferecer a quem o pensamento evocou, estamos sem margem para dúvidas na presença de alguém com um coração que cultiva sentimentos nobres, alguém que procura o valor da vida em si próprio e na felicidade dos outros e isso tem um valor imensurável e incalculável.

Enquanto haver pessoas assim vale a pena confiar e ter esperança no presente e no futuro. Obrigado Odete por ser minha amiga, por ser como é, e pela lembrança.
By José Martins